sexta-feira, 17 de junho de 2011

HEVIOSO

Para o povo Jeje, as divindades do trovão, ou mais precisamente os Voduns, cuja ação justiceira provoca a morte e a destruição pelo raio, levam o nome geral de Hevioso, cujas características são quase as mesmas de Xangô (menos quando comparado ao antigo rei de Oyó). A representação de Hevioso são as pedras de raio. Simbolizado pelo machado simples que representa o carneiro cuspindo fogo, seu animal sagrado.
O parentesco entre Xangô e Hevioso (mais precisamente Sògbò) é claramente observado no dia de certas cerimônias, onde o sacerdote de Hevioso aparece segurando o machado duplo (Oxé) de Xangô e o machado simples (Sokpe) de Hevioso.
Hevioso é uma família de Voduns muito numerosas. O líder deste panteão, aqui e na África, é o Vodum Sògbò.
Além dos voduns do trovão (Voduns Kaviunos), também encontramos neste panteão os voduns do oceano que estão ligados desde a África.
Principais voduns de Hevioso:
Sògbò
Sogbô, considerado o rei coroado da Nação Jeje no Brasil, é o chefe do Panteão de Hevioso. Vodum justiceiro que governa os vulcões e o fogo. Sògbò é quem trás os demais voduns do trovão e é o pai de muitos deles. Suas cores são o vermelho e o branco. O dia da semana é a quarta-feira, dia em que se reverenciam os voduns kavionos. Seu símbolo é o sokpe, um machado simples de uma lâmina. Na Africa Sògbò também refere-se a um vodum feminino. Muitos filhos de Sògbò se dizem filhos de Sángò, e também no Benin há sacerdotes que consideram que Sògbò é mesmo Sángò. É conhecido pelos mahis com a denominação de Sògbò Adan, ou seja: Corajoso Sògbò, diferenciando-o.
Badé
Vodun jovem, guerreiro e brigão. Habita os vulcões e é um vodum ligado ao fogo, assim como Sògbò. suas cores variam entre vermelho, branco, amarelo e azul. Também está ligado ao céu e à chuva.
Akorombé
Ataca os inimigos ou castiga o homem enviando granizo, e faz os rios transbordarem. É ele quem controla a temperatura do mundo. Quando está calmo e satisfeito, ajuda o homem dando-lhe bons movimentos financeiros.
Averekete
É um vodum da prosperidade e da alimentação, pois é um vodum pescador. Alguns erroneamente o confundem com Logun Edé. Averekete leva uma lança e um anzol. É representado pelo branco, vermelho, azul e verde.
Sòhòkè
Sòhòkè (lê-se Soroquê) é um vòdun filho de Máwú e Lissá, cujo elemento principal é o fogo. Muitas são as dúvidas relacionadas a esse vodun. Devido a mistura de cultos, Sòhòkè passou a ser aglutinado na cultura Iyorubá, passando a ser confundido com um dos caminhos de Ògún. Segundo o mito Iyorubá, Ògún Sòhòkè (lê-se Xoroquê) é o Ògún que desceu as montanhas, sendo o senhor das trilhas e do fogo líquido onde, Xòrò deriva do termo Iyorubá Sòròrò ou Xòròrò que significa descer ou escorrer e, òkè significa montanha). Segundo os mais velhos é um Ògún muito arredio, sendo muito coligado ao seu irmão Èsú e tendo todas oferendas e fundamentações com o mesmo. Dizem ainda que essa “qualidade” de Ògún tem muito fundamento com ègún, sendo ele responsável por todos aqueles que desencarnam em acidentes na estrada ou linha férrea. Em outras casas, Sòròkè deixou de ser uma qualidade de Ògún e passou a ser um Èsú , com as mesmas características do Ògún Sòròkè porém, sendo fundamentado como qualidade de Èsú e passando a ser cultuado como o mesmo.
Mas para nós de jeje Sòhòkè não é nem Èsú nem Ògún e, sim um vòdún independente, com culto próprio e de características próprias que acabou por ser fundido a cultura desses dois òrísás por ter coisas em comum. Isso ocorreu também com outras divindades como Agbé, Aboto, Azansu, Sogbo, Intoto e outos mais que acabaram aglutinados a cultura de outras divindades africanas. Sòhòkè é o guardião das casas de jeje, onde Sòhò(lê-se sorrô) significa guardião e kwè(lê-se Qüê) significa casa. Seu assentamento é fixado ao chão, cravado na terra, ao lado do assentamento do vodun Légbà, vodun Ayizan e do vodun Gú (Ogun). Sòhòkè não é iniciado na cabeça de nenhum adepto pois o mesmo não incorpora. Sòhòkè é o caminho formado pela lava após ser expelida do vulcão, possuindo muito fundamento com Badé, Sògbò e outros voduns que moram nos vulcões e que estão ligados ao fogo e também com Oyá. Sua cor é o Azul escuro e o vermelho, seu dia da semana a segunda-feira e sua saudação Aho bo boy Sòhòkè!!!

Kposu, a pantera
Kpòsú é um vòdún pouco conhecido e cultuado aqui no Brasil. A tradução da palavra kpòsú (lê-se Pòsú ou Pòsún) é pantera macho ou homem pantera. Dizem os ítàns que da união da princesa Álígbònò com uma pantera chamada Gbèkpò nasceu Yíègú. Yìegú Tènú Gesú formou um exército chamado kpòvíllè (os filhos da pantera) para tomar o reino de Àjá- Tàdò e ali deixou seu nome marcado na história, ganhando o título de Gáú Kpòsú (o general pantera) ou para nós apenas Kpòsú. Após a retomada do reino de Àjá-Tádò, os filhos de Yíègú vão para o sul e fundam o reino de Dàhòmèy. Com essa explicação, podemos ver que Kpòsú não é apenas um vòdún específico mas, também um título dado aos descendentes de Yíègú.  Kpòsú representa a agilidade, a esperteza, a caça. Assim como a pantera, Kpòsú tem todas suas oferendas e sacrifícios feitos de madrugada. É um vòdún de extrema importância, sendo o senhor do Áríàsé de algumas casas de jeje. Seus rituais são ligados a Áyízàn e a cerimônia de mutação dos vòdúns onde Kpòsú tem a permissão de se transformar em pantera. Nas danças rituais, os adeptos dançam para kpòsú como se tivessem com garras na mão, lembrando a origem desse grande vòdún e deixando bem claro a sua natureza. Sem dúvida nenhuma, um vòdún de extremo respeito e, que não podemos deixar seu culto morrer, passando seu culto, assim como nossos ancestrais, de geração para geração.

OS VÒDÚNS DO JEJE MAHI



No Jeje Mahi se cultuam Voduns, cujas origens e características se assemelham aos orixás Yorubás, e alguns tiveram origem de culto dos mesmos (um exemplo é Gú que tem origem de culto do orixá Ogum). Voduns que tiveram vida terrena e que possuem sepulturas – como os reais de Dahomey – e Eguns (akútùtós) não são cultuados em Jeji Mahi. A causa disto é que Gbesén (Bessém), o dono da Nação, ser um vodum estreitamente ligado à vida e à renovação.
Os voduns do Jeje Mahi seguem  uma divisão por famílias ou panteões, cujos principais são:
  • Panteão da Serpente (Dan): Neste panteão agrupam-se todos os “Voduns Serpentes”, estão ligados diretamente ao movimento, a vida, a renovação e a adivinhação. Alguns voduns Dan: Gbesén, Dangbala, Áidò Wèdò, Frekwen ou Kwenkwen, Dan Ikó, Dan Xwevé, Dan Akasú, Dan Jikún ou Ojikún, Azannadô ou Zoonodô (que está ligado também a Hevioso), Aziri ou Azli.
  • Panteão do Trovão (Hevioso): Neta família agrupam-se os Voduns Kavionos, ligados ao fogo, à justiça, e ao raio, e também os voduns do oceano (Tòvodum) que mantêm estreitas ligações com os Voduns Kavionos. O Panteão é liderado pelo vodum Sogbo. Os Voduns Kavionos: Sògbò, Gbadé, Akarumbé, Adeen, Kposu, Averekete, Lissá, Agbé Tayó (vodun do aceano), Djó e Agbé Hunnòn (avejidá), Loko.
  • Panteão da Terra (Sakpata): Neste panteão se agrupam os voduns da terra, das riquezas e das doenças, ligados a vida e a morte. Azansu é o lider do Panteão. Alguns voduns do Panteão: Azansú (Sakpata), Ewá, Parará ou Pararalibu, Avimadje, Agué, Ayizan, Nanã, Agbé Gèlèdè e Abè Afefè (Avejidá). Kposu está ligado a Sakpata, embora seja de Hevioso.
  • Nagô-Vodum: Esses voduns são na verdade orixás, pois são de origem nagô. Os principais são: Gú (Ogum), Odé, Oyá, Oxun, e Yemanjá. No Bogun, pode-se encontrar o culto a Logun Edé.
  • Guardiões: Responsáveis pela defesa e fiscalização da casa, como Sòhòkwe, Legba e mesmo Ogun. Legbá por suas diversas funções está ligado aos diversos panteões.
Muitas famílias menores foram absorvidas pelas maiores, assim podemos notar que Avejidá foi dividida entre Sakpata e Hevioso.

Aziri Togbosi é a grande mãe das águas do Jeje Mahi e está ligada a todos os voduns, por ser considerada a mãe de muitos deles.

OS SEGUIMENTOS DA NAÇÃO JEJE

A Nação Jeje compreende as culturas de diversos povos, tais quais os Fons, Ewes, Adjas, Minas, Popos, Gans, etc. Estes povos tinham e tem em comum sua forma de religião: o culto ao Vodun. Mas a diversidade no culto varia de povo para povo, de seguimento para seguimento. Estes povos habitavam o antigo reino de Dahomey, Dahomé ou Daomé, situado onde hoje é o Benin, mantendo proximidades com a Nigéria, onde situam-se os povos yorubás, e que mantém em suas regiões fronteiristas, uma mescla de seus cultos, fazendo com que os “jejis” adotassem alguns orixás em seu panteão (voduns nagôs como Oyá, Òsún, Yemanjá), assim como os nagôs adotaram alguns voduns em seu panteão (Oxumaré, por exemplo). Os povos da capital de Dahomey (Abomey ou Abomé) eram pricipalmente os Adjas. Por volta de 1650, os Adjas conseguiram dominar os Fons, e o rei Hwegbajá (1645-1685) declarou-se rei de seu território comum. Tendo estabelecido sua capital em Abamey, Hwegbajá e seus sucessores conseguiram estabelecer um Estado altamente centralizado com base no culto da realeza (Voduns Reais) estruturado em sacrifícios (incluindo sacrifícios humanos) aos antepassados do monarca. Toda a terra era propriedade direta do rei, que coletava tributos de todas as colheitas obtidas. Logo este povo entraria em confronto com vários outros, alguns pertencentes à própria origem “jeji” (daomeana) como os povos de Aladá, Mahi, Uidá, e outros povos de origem yorubá, tais como o Reino de Oyó, que acabou vencendo os daomeanos. Economicamente, entretanto, Hwegbajá e seus sucessores lucraram principalmente com o tráfico de escravos e relações com os escravistas estabelecidos na costa. Como os reis do Daomé envolveram-se em guerras para expandir seu território, e começaram a utilizar rifles e outras armas de fogo compradas aos europeus em troca dos prisioneiros, que foram vendidos como escravos nas Américas.
No Brasil, chegaram principalmente os Minas (povos da Costa da Mina, de origem Mina e Popo), os Mahis (povos camponeses de origem Fon, Ewe e Gan), os Savalus (também de origem Fon, Ewe), povos de Aladá, Uidá e os próprios Adjas. Esses diferentes povos de diferentes línguas e costumes estabeleceram seu culto no Brasil, sob o nome de Nação Jeje, baseando-se no culto aos Voduns e formando várias ramificações, dentre as quais se destacam:
  • Jeje Dahomey: é a forma de culto estabelecida pelos povos adjas, seu culto baseia-se principalmente na reverência aos Voduns Reais (dirigentes do Dahomey), Voduns da família de Hevioso (voduns do trovão, juntamente com os tòvoduns ou voduns aquáticos) e Voduns da família de Dan (serpentes). Os dirigentes do Dahomey tinham um conflito quanto ao culto de Sakpata, que tinha os títulos de Jòholú (“Rei das Joias”, aludindo ao fato de ser o dono das chagas) e Ayinon (“Dono da Terra”), títulos estes que o rei também possuia, o que levou ao culto de Sakpata ter sido banido da capital e não existir no Jeje Dahomey. Orixás/Voduns Nagôs, não são cultuados nesta ramificação. O terreiro que representa esta nação é o Terreiro do Pinho (Hunkpame Dahomey) situado em Maragojipe na Bahia. As línguas faladas são o adjagbé e o ewegbé.
  • Jeje Mina: o Jeje Mina tem seu culto voltado à adoração real dos voduns de Abomey. Isso porque a fundadora deste culto (presente unicamente na Casa das Minas, pois nas demais casas de Tambor de Mina, o culto é Mina Jeje-Nagô, com influências yorubás) era a Rainha Nã Agontimé. “Adandozan também é retratado como incompetente – como comandante e guerreiro – e como um traidor da família real, pois teria vendido sua madrasta, a rainha Nã Agontimé, aos traficantes de escravos. Pesquisas realizadas por Pierre Verger sugerem que Nã Agontimé teria sido enviada como escrava a São Luis do Maranhão - onde foi renomeada como Maria Jesuína – e seria a fundadora da célebre Casa das Minas”. Pierre Verger ainda cita: “A Casa das Minas teria sido fundada pela rainha Nã Agontime, viúva do Rei Agonglô (1789-1797), vendida como escrava por Adondozã (1797-1818), que governou o Dahomey após o falecimento do pai e foi destronado pelo meio irmão, Ghezo, filho da rainha (1818-1858). Ghezo chegou a organizar uma embaixada às Américas para procurar a sua mãe, que não foi encontrada.” A Casa das Minas cultua os Voduns dirigentes e nobres do Dahomey, inclusive Zomadonu, que é chefe da Casa da Minas, juntamente com Nochê Naé, a ancestral mítica da família Real.
  • Jeje Mahi: Os Povos Mahi eram camponeses, tinham seu culto voltado, principalmente a Dan Gbé Sén (Bessém, este termo significa “adorar a vida” e dangbésén significa “serpente que adora a vida”) e aos voduns de sua família, e também aos voduns da família de Hevioso ou Kaviono, e os voduns da família de Sakpata. Voduns reais e Eguns não são cultuados. Tem influências nagôs e em seu panteão adotou-se alguns Orixás, subdividindo-se em Jeje Nagò-Vòdún, formado principalmente por Ogun, Odé, Oyá, Òsún e Iyemojá. O culto trazido pela africana conhecida como Ludovina Pessoa, natural de Mahi, iniciada para o vodun nagô Ogun, que foi escolhida pelos voduns para fundar três templos na Bahia. Ela fundou o “Zoogodo Bogun Malé Hundo”, mais conhecido como “Terreiro do Bogun”, consagrado a Hevioso e o “Zoogodo Bogun Sejá Hundê”, mais conhecido como “Kwê Sejá Hundê”, consagrado a Bessém. O templo que seria consagrado a Azansú Sakpata não chegou a ser fundado. Dizem os antigos que o Ogun de Ludovina se chamava “Ogun Rainha” ou “Ogun da Rainha”, podendo supor que ela seria uma integrante da família real ou mesmo uma rainha do território Mahi. No Rio de Janeiro, o Kpo Dagbá é o grande representante desta nação, fundado pela africana da cidade de Aladá, Gaiaku Rosena, iniciada para o vodun Bessém.
  • Jeje Modubi: O Jeje Modubi tinha como representante o “Bitedô” e a chamada “Roça de Cima”, ambos liderados por Tixareme e também por Ludovina Pessoa. O que difere o Modubi do Mahi, é que no Modubi o culto a eguns é muito presente e no Jeje Mahi isso é quizila.
  • Jeje Savalu: Com forte influência yorubá em seu culto.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

AZANSU - SAKPATA

Para o povo Jeje, Sakpatá foi trazido para o Dahomey, por Agajá, no século XVIII, vindo da cidade de Dassa Zoumé, mais precisamente, da aldeia de Pingine Vedji.
Todos os Voduns, pertencentes ao panteão de Sakpatá, são da família Dambirá.
Nesse panteão temos vários Voduns. O mais velho que se tem notícia é Toy Akossu, no transe, ele se mantém deitado na azan (esteira). Dizem os mais velhos, que Toy Akossu é o patrono dos cientistas, ele dá a eles inspirações para a descoberta das fórmulas mágicas que curarão as doenças e as pestes. Ele é a própria "doença e cura", como também um excelente conselheiro.
Toy Azonce é outro Vodum velho, porém mais novo que Toy Akossu. Seu assentamento fica em local bem isolado do Kwe, sendo proibido tocá-lo. Somente UMA pessoa designada por ele mesmo pode tratar desse assentamento. É Toy Azonce quem sempre faz todas as honras para seu irmão Toy Akossu, quando ele está em terra.
Toy Abrogevi é um Vodum velho, filho de Toy Akossu, que gosta de comer quiabo com dendê, paçoca de gergelim e fumar cachimbo de barro. Toy Abrogevi gosta muito de Badé e se tornou muito amigo dele. Foi com Badé que aprendeu a comer e a gostar de quiabo.
Esses Voduns são rigorosos no que tange a moral e os bons costumes. Nunca admitem falhas morais dentro dos kwes e, quem faz essa fiscalização para eles é Ewá, filha de Toy Azonce.
Símbolo fortemente ligado a Sakpatá, a palha da costa é a fibra da ráfia, obtida de palmas novas, extraídas de uma palmeira cujo nome científico é raphia vinifera. No Brasil, recebe o nome de Jupati. A palmeira é considerada a "esteira da Terra".
A palha da costa, tendo sua origem na palmeira, ganha o simbolismo universal de ascensão, de regeneração e da certeza da imortalidade da alma e da ressurreição dos mortos. Um símbolo da alma. Além de proteger a vulnerabilidade do iniciado, sua utilização também é reservada aos deuses ancestrais, numa reafirmação de sua ancestralidade, eternização e transcendência.
Os Sakpatás podem trazer nas mãos o xaxará, ou o bastão, a lança, o illewo ou ainda, uma pequena espada. A maioria deles gosta de manter o rosto coberto pela palha da costa, outros gostam de mostrar o rosto. Todos gostam muito de usar búzios e chaorôs (guizos).
O lakidibá, fio de conta de Sakpatá, é feito do chifre do búfalo. Tem o sentido de eminência, de elevação, símbolo de poder, um emblema divino. Ele evoca o prestígio da força vital, da criação periódica, da vida inesgotável, da fecundidade. Devemos lembrar que chifre, em hebraico "querem", quer dizer, ao mesmo tempo, chifre, poder e força.
O lakidibá não sugere apenas a potência, é a própria imagem do poder que Sakpatá tem sobre a vida e a morte. Na conjunção do lakidibá e do deus Sakpatá, descobrimos um processo de anexação da potência, da exaltação, da força, das quatro direções do espaço, da ambivalência.
O lakidibá é entregue ao adepto somente na obrigação de sete anos.

Os narrunos para esses Voduns devem sempre ser feitos com o sol forte e cada um deles especifica o que querem comer. Isso quer dizer que, não existe uma única maneira de agradá-los. Eles não gostam de barulho de fogos de artifícios.
Uma vez por ano, os Kwes fazem um banquete para as Divindades do Panteão de Sakpatá, onde devemos comer dançar e cantar junto com os Voduns. Esse banquete não pode ser aberto ao público e nem recebe o nome de Olubajé, que é um culto específico dos Iyorubanos. Os jejes acreditam que, com essa cerimônia oferecida a essas divindades, todas as doenças são despachadas do caminho do Kwe e de seus filhos.
Esse banquete é colocado dentro do peji ou do quarto onde mora Sakpatá e os demais Voduns de seu panteão. Toda a comunidade vem saudar o Deus da varíola e seus descendentes, comer e dançar junto com eles e, ali mesmo, é servido o banquete para todos os filhos do kwè.

Dia da semana é a segunda-feira e a saudação é Áhò gbò gbòy Azansu

NÀNÀ - A GRANDE MÃE

Nànà certamente é um dos Vòdúns mais misteriosos do panteão africano.
Essa divindade é um assunto difícil pois, seu culto apesar de muito expandido em todo o território africano e sua importância ser reconhecida por todas as nações candomblecistas (djèdjè, kètú, angola, etc), trata-se de uma das divindades possuidoras de inúmeros mitos e temores em nossa cultura. De origem dahomeana, da cidade de Dassa-zoumé, para os fons, Nànà era toda sacerdotiza da deusa Màwú, não sendo considerada então uma divindade. Seu nome em Dassa-zoumé era Nàè gbáýn, sendo uma poderosa deusa, cujo culto antecede o de Màwú-Lísá, estando completamente relacionada a Dàn gbé e a origem de todo o mundo e vida no planeta Terra.
Muitas lendas tem Nànà como um ancestral hermafrodita, assim como Oxalá, sendo chamada de Nànà Dènsú e tendo como esposa a grande deusa das águas Màmí Wátà. Mas sabe-se que Nànà é uma Yaba, mãe de quase todos os deuses na cultura dahomeana e para os iyorubás mãe de Òmòlú (Sákpátá), Ìròkò (Lòkò) e Òsúmárè (Dàn/Gbèsén) que são vòdúns cultuados entre os Iyorubás. Nànà representa a vida(dògbé) e a morte (dòkú). Ela acolhe em seu ventre os mortos e os prepara para o renascimento. Essa dualidade entre a vida e a morte é representada pelo pântano, seu habitat uma vez que, mistura a água (vida) e a terra (morte), formando a lama, abrindo um portal de dimensões dos vivos e dos mortos. Para que haja lama ou barro é necessário haver chuva e por esse motivo, Nànà também passou a ser considerada a divindade das chuvas. Nànà Gbúlúkú ou Gbúrúkú é outro nome pela qual essa deusa de tornou conhecida, nessa fase, estando relacionada a morte e ao culto aos ancestrais. Seus cantigos são súplicas para que a morte se mantenha afastada e que a vida seja preservada. Está relacionada ao início de tudo e segundo os ítàns, foi ela que cedeu o barro para que o homem fosse modelado porém, com uma condição, ao morrer os corpos deveriam ser enterrados, voltando para o seu domínio. Nànà de origem dahomeana, foi incorporada há séculos pela mitologia Iyoruba, quando o povo nagô conquistou o povo do Dahomey (atual República do Benin), assimilando sua cultura e incorporando alguns Òrísás dos dominados à sua mitologia já estabelecida. Nesse processo cultural, Oxalá (mito yoruba ou nagô) continuou sendo o pai de quase todos os orixás. Íyèmònjá (mito igualmente ioruba) é a mãe de seus filhos (nagô) e Nànàn (mito jeje) assume a figura de mãe dos filhos dahomeanos,. Os mitos dahomeanos eram mais antigos que os nagôs (vinham de uma cultura ancestral que se mostra anterior à descoberta do fogo). Tentou-se, então, acertar essa cronologia com a colocação de Nànà e o nascimento de seus filhos, como fatos anteriores ao encontro de Oxalá e Yèmònjá.
Nànà tem como principal símbolo o "ìgbírí" feixe de nervura de dendezeiro envolto, que carrega na mão, com uma das pontas voltadas para baixo, simbolizando a vida que retorna. Algumas lendas contam que o ígbírí representa òmòlú, o filho que Nànà abandonou no rio para que não fosse morto pelo rei de dahomey por causa de suas chagas, que as julgavam contagiosas.

O símbolo que melhor sintetiza o caráter de Nànà é o “grão”, pois ela possui o domínio da agricultura e todo “grão” tem que morrer para germinar.

Nànàn é nossa grande mãe, sem ela não existiria a vida e nem nossa casa que é a Terra.
Saudação: Saluba Nànà Gbúrúkú.

LÒKÒ - O VÒDÚN "ÁRVORE"

Lòkò é um Vòdún de muitíssima importância dentro do culto Jeje. No Brasil seu culto foi assimilado à árvore ficus religiosa também chamada de gameleira branca mas, na África era cultuado na Chlorofora excelsa também chamada de ìròkò, tendo-a como principais erva e fetiche e, daí sendo retirado seu outro nome com o qual é conhecido nas terras nigerianas. Trata- se de um vòdún ligado diretamente aos ancestrais.
Representa todas as árvores centenárias, lembrando que na África os espíritos ancestres são cultuados nas mesmas, pois acredita-se serem um portal para o outro mundo.
Está ligado a Águé uma vez que, se Lòkò é a árvore centenária, Águé é a sua folha, esclarecendo a ligação de um Vòdún ao outro. É filho de Nànà e teve seu culto expandido no território nigeriano, sendo cultuado também como òrísá pelos Iyorubanos cujo nome é Ìròkò.  É conhecido e cultuado tanto como um ayi vòdún (divindade do panteão da terra) como um dji vòdún (divindade do panteão dos trovões e do ar). Seus vòdúnsís (iniciados) são chamados de Lòkòsi.
Dentro do culto djèdjè, o vòdún Lòkò é o guardião da maior jóia do candomblé, o hunjegbe (lê-se rungebe ou rungeve) que representa a passagem da vida para morte, tendo como senhor o vòdún Dàn.
As grandes árvores são muito respeitadas por todo o povo dos cultos africanistas. No culto de ègúngún, além de representar o portal para o outro mundo e o poder do Vòdún Lòkò também são retiradas de seus galhos os ísàn, estilo de varinha usada para condunzir, invocar e controlar os gbágbá ègún quando materializados.
Dentro do culto as Íyámí Ájé, as grandes árvores são seus principais fundamentos, representando feitiço e mistério, além de suas copas servirem como moradia para essas senhoras. É comum dizer que aos pés das grandes árvores também moram espíritos infantis chamados de ágbíkú (a vida que provém da morte) que são comandados por Òlúwèrè. 
O culto a Lòkò é muito extenso na Nigéria e sempre que são feitos pedidos a esse Vòdún com sinonimo de troca e após a sua realização, é obrigatório o agrado com oferendas a Ele para não desagrada-lo e nem despertar a sua fúria. Atualmente, no Brasil, é raro vermos um filho iniciado desse Vòdún mas, seu culto continua vivo dentro de todos os ásés pois, sem Lòkò não existe ancestral e sem ancestral não existe culto.
Saudação: Áhò gbò gbòy Loko Kayaba

AGUÉ - O VÒDÚN DAS MATAS

Agué é o vòdún relacionado às matas e a tudo que nela existe. Sendo assimilado ao Orixá Ossaiym dos yorubanos porém, ao contrário dessa divindade, Agué está ligado ao nosso cotidiano, sendo um vòdún responsável pela alimentação, pela caça e pelo cultivo das plantas. O correto ao comparar Águé com algum orixá seria, dizer que Agué une o poder de Ossaiym com a responsabilidade de Oxóssi. Ele é responsável pela fauna e pela flora e nos dias de festa, é cultuado após Ogun.
Agué é o senhor de todas as folhas, estando atribuído a ele o domínio e seu cultivo, desde o arar da terra, o adubo e o plantio. Todas as sementes, folhas, caules, raízes, flores, etc, pertencem a Agué, sendo ele o guardião de toda a flora. Tem domínio também sobre todos os animais da floresta, aqueles que vivem e se alimentam na mesma, sendo responsável pela sua proteção, combatendo a caça ilegal e quem os maltrata juntamente com Odé.
Agué é filho de Nanã e, com ela aprendeu o domínio sobre os mortos, tendo muita ligação com íkú e seus mistérios. Conhecedor de alta magia, Agué não teme íkú nem as íyámí òsóròngá, possuindo extremos laços com ambas energias. Ele ensinou a todos os seres humanos como cultivar as plantas e principalmente como utilizar as ervas medicinais.  É por conta de Agué que, no Jeje, os Vòdúns são cultuados nos átínsás – as árvores sagradas.
Não se inicia ninguém sem a intercessão de Águé.
Todas as ervas são de seu domínio mas, em particular, o Pèrègún que simboliza a força desse vòdún, usando-o para controlar ou afastar os ègúns, sendo este um de seus mais preciosos átínsás. Pertence a família da terra e com certeza é o vòdún que melhor representa o poder de Àíkúgúmàn (terra)
Águé representa a liturgia, a ancestralidade, a sabedoria, a herança e a hierarquia. É responsável pelo passar da cultura de pais para filhos, mantendo vivas as lendas e o culto dos vòdúns. É muito ligado ao seu irmão Lòkò, o Iroko da cultura Iyorubana e a Sákpátá.
Seu dia da semana é quinta-feira, suas cores são o cinza chumbo e o branco mesclado rajado com o verde, seus elementos são a terra e o ar.

Sua saudação Áhò gbò gbòy Águé ou Águé beno beno.

LÉGBÀ - O VÒDÚN DA LIGAÇÃO

Légbà é um vòdún importantíssimo dentro do culto jeje, por ser responsável pela comunicação entre os Voduns e os humanos e vice-versa.
Entre os fons do Benin (antigo Dahomé) Légbà equivale a Exu dos Yorubanos. Ele é representado por uma huinha com um falo ereto, que representa a afirmação de seu caráter truculento, atrevido e sem vergonha e de seu desejo de chocar o decoro.
Légbà é o caçula de Mawu e de Lissá, e não possui um domínio fixo, estando em todo lugar e em tudo ao mesmo tempo, tornando-o o Vòdún da mobilidade com acesso a todos os domínios e fazendo dele o personagem intermediário por excelência. . É a divindade do imprevisível, do inatribuível e ele está além do bem e do mal concebidos pela sociedade. Légbà tem o papel de guardião do patrimônio divino, que lhe foi atribuído por  Máwú-Lísá.
Fá, o vòdún da adivinhação, depende de Légbà pois é ele quem torna o destino manipulável, nada poderá acontecer sem a intervenção de Légbà. Devido a esse seu poder quase que absoluto sobre a vida e a morte, sucesso e fracasso, riqueza e miséria, Légbà é o mais temido e respeitado do Panteão Fòn e, também, o mais importante.
Quando Mawu e Lissá enviaram seus filhos à Terra, Légbà foi o único que ficou acocorado aos pés de sua mãe e com o passar do tempo todos esqueceram a língua de Mawu, menos Légbà que permaneceu junto a ela. Por isso somente ele pode levar nossa mensagem até ela.
É perigoso dizer o nome desse vòdún em vão, pela força e domínio que ele tem e, normalmente, seu nome para ser dito é necessário tocar no solo em respeito ao seu poder. Seu principal ritual é chamado de Légbà lé lé, que se compara ao ritual de ípádè dos yorubanos porém, com muitos outros fundamentos e atos que os diferem. É cultuado após Áyízàn, 
Seu dia da semana é a segunda-feira, sua cor é o vermelho rajado com preto e o seu elemento é o fogo e também a terra e sua saudação é Áhò gbò gbòy Légbà!!!

ANCESTRALIDADE - ÀYÍZÀN, A ESTEIRA DA TERRA

Àyízàn, que representa a nata da Terra é um vòdún feminino dos mais importantes na cultura fòn, sendo considerada a dona dos mercados e dos espaços públicos, onde as pessoas se encontram e se interagem. Em algumas casas, ela é a primeira divindade a ser saudada, pois é a ela que se atribui o dom da palavra e da comunicação. Está  ligada à Légbà, a quem muitas vezes é associada como mãe ou esposa. É representada por um amontoado de terra colocado no meio das praças de mercado coberto de muitas rodilhas de dèzàn (palmas ainda verdes e desfiadas de dendezeiro).
Àyízàn também é cultuada nos Hùnkpàmè, onde é responsável pelos neófitos em processo de educação e aprendizado. Seu cultoé originário de hwedá e é forte sobretudo na região de Uidá, no Benin. É cultuada antes de Légbà, sendo para os Fòn a senhora dos oráculos juntamente com o mesmo, assim como Èsú, respondendo por Fá ( vòdún coligado a Òrúnmíllá). Possui grandes relações com os ancestrais (ègúngún e íyámí) e com suas sociedades e assim nos ritos de Jeje Mahi é a responsavel pela parte de louvação aos ancestrais da casa.
Vòdún Áyízàn tem uma grande família e cada um dos membros reina em uma parte da terra, inclusive o mundo ctônico (subterrâneo) e abissal (subterrâneo aquático).

Sua saudação é Áhò gbò gbòy Àyízàn!

A CRIAÇÃO DO MUNDO NA VISÃO DOS POVOS EWÈ/FON

De acordo com a lenda dos povos Ewè/Fon, Nanã Buruku em conjunto com Aido Wedo e Dangbala criaram o mundo e deram vida aos animais, a flora e aos minerais.
Após a criação do mundo, Nanã deu origem aos gêmeos Mawu-Lisa e determinou que eles criassem o homem para povoar a Terra.
A partir da criação dos gêmeos Mawu-Lisa, foi criado o equilílibrio no mundo e aos seres vivos.
Mawu é o princípio feminino, a fertilidade, a suavidade, a compreensão, a ponderação, a reconciliação e o perdão.
Lisa é o princípio masculino, o julgador, a impaciência, a força cósmica que castiga os homens errados e os corrige, a seriedade. Ele está sempre atento para que as leis de Mawu sejam cumpridas.
Nanã ao perceber que Lisa não seguia as doutrinas de Mawu em mudar seu gênio, resolveu separá-los.
Enviou Mawu à lua para ser a luz e iluminar a Terra no período noturno e suavizar os sofrimentos dos seres, projetando a fé e o amor  sobre o planeta.
Lisa foi enviado ao sol para poder ver mais claramente os erros humanos e julgar antes de castigá-los. Lisa recebeu a ordem de andar pela Terra uma vez por ano para conviver e conhecer de perto as necessidades dos humanos, ajudando-os e corrigindo-os. Nessas caminhadas pela Terra, Lisa deixou alguns descendentes que se tornaram divinizados.
A partir da separação dos gêmeos, Mawu e Lisa passaram se encontram quando ocorre um eclipse e, nessa ocasião, geram mais Voduns para ajudar os humanos.
Antes de a concretização da separação, os gêmeos reuniram seus filhos e os enviaram à Terra para serem os primeiros habitantes e para que esses os ajudassem a governá-la, cada um com sua atribuição.
Segundo o mito, após a criação de Mawu e de Lisa, Nanã criou Ayizan, vodum que vive no tempo, em uma esteira, vendo a eternidade passar.
O povo Ewé tem em Nanã Buruku sua Grande Mãe que rege as leis e a vida na Terra.
Em qualquer mito Dan foi auxiliar na criação e por isso é o vodum mais reverenciado dentro do culto Vodum.